Em busca de ideias geniais


Ele ajudou a criar o PayPal e foi um dos fundadores do YouTube. Agora, tem uma empresa de venture capital, a YouUniversity. Aqui, Jawed Karim, 31 anos, conta como é conquistar — e viver — o sucesso

Marisa Adán Gil

Aos 16 anos, Jawed Karim criou um sistema de e-mails para a escola em que estudava, o St. Paul’s School, em Minnesota (EUA). Dois anos depois, montou o site do laboratório de bioquímica da Universidade de Minnesota, onde sua mãe trabalhava. Mais tarde, cursando a Universidade de Illinois, seria convidado para trabalhar na PayPal. Mas a carreira meteórica do rapaz de origem alemã e criado nos EUA estava apenas começando.

Após a venda da PayPal para o e-Bay, em 2002, ele decidiu empreender. Em uma troca de ideias com os amigos Chad Hurley e Steven Chen, teve uma ideia tão simples quanto genial: criar um site onde as pessoas pudessem compartilhar vídeos de todos os tipos e procedências. Coube a Hurley e Chen transformar o YouTube em um dos maiores fenômenos da internet — Karim, que ficou com uma participação minoritária, tinha outros planos: estudar ciência da computação em Stanford. A venda do YouTube para a Google, em 2006, por US$ 1,65 bilhão, pegou Karim de surpresa — mas, mesmo com um lote menor de ações, ele embolsou US$ 64 milhões.

Então, ele partiu para seu empreendimento mais pessoal: a empresa de venture capital YouUniversity Ventures, que investe em negócios virtuais. Em novembro, Karim participou do evento “Silicon Valley — What’s Your Innovation”, organizado pelo Centro de Empreendedorismo da FGV-EAESP e pelo Fórum de Inovação, com patrocínio da Bric Chamber, e deu a seguinte entrevista a Pequenas Empresas & Grandes Negócios:

De onde vêm as boas ideias?
As melhores ideias de negócios vêm de uma necessidade pessoal. É algo em que se está muito interessado, ou mesmo apaixonado. Foi o que aconteceu no caso do YouTube. Eu estava no computador, tentando encontrar vídeos de dois acontecimentos marcantes de 2004. Um era a apresentação da Janet Jackson no show do Super Bowl, quando ela ficou com o seio de fora. O outro era o tsunami na Ásia. Descobri que era bem difícil achar essas imagens. Daí eu e meus colegas pensamos: e se criássemos um site onde as pessoas pudessem compartilhar vídeos? Foi assim que tudo começou.

Depois de criar o YouTube, você decidiu deixar seu cargo na empresa e voltar à faculdade. Por quê?
Eu não deixei a empresa totalmente, já que passei a atuar como consultor. Mas eu queria mesmo é estudar. Me vejo como alguém que gosta de trafegar em vários campos. Não sinto necessidade de ficar preso a uma empresa.

Como é ser jovem, bem-sucedido e milionário?
O melhor de ser milionário é que isso te dá mais exposição. Você tem acesso fácil e rápido a um grande número de pessoas, já que seu talento para empreender está comprovado. Mas existe uma armadilha aí, algo comum entre os jovens empresários do Vale do Silício. O empreendedor cria um negócio de sucesso, vende por alguns milhões de dólares, e daí vem a pergunta: e agora? A pressão para que ele continue empreendendo é grande. Só que, se a empresa seguinte não for maior do que a primeira, ele vai ser considerado um fracasso. E isso é uma grande injustiça. Essa é uma das razões por que não me vejo abrindo uma companhia depois da outra. Não quero essa responsabilidade para mim.

Por que você decidiu fundar o YouUniversity Ventures?
Para mim, é gratificante conviver com jovens empreendedores. Nosso trabalho no YouUniversity é proporcionar ajuda financeira e consultoria a startups no universo virtual. Até agora, já trabalhamos com 15 empresas. Uma delas é a AirBnB: usando o site, você pode se hospedar na casa de moradores de outros paí­ses. Outra é a Futureadvisor, que dá dicas de investimento a longo prazo.

Como você escolhe as empresas que vai financiar?
A decisão tem muito a ver com marketing. Avaliamos se há mercado para o produto ou serviço que está sendo oferecido. Também presto atenção nos sócios da empresa. Que tipo de pessoas são? Eles têm experiência? São criativos? Considero importante que a empresa tenha um produto ou serviço bem definido, e não apenas um plano de negócios. Alguns empreendedores me apresentam planos de 20 páginas, com previsões de faturamento para os próximos dez anos. Isso não faz sentido. Ninguém sabe o que vai acontecer nos próximos dez anos!

Que conselho você daria para quem está abrindo um negócio virtual?
Você precisa ter certeza de que o que está oferecendo será valioso para as pessoas. Elas vão economizar com o seu produto? Vão ganhar tempo ou dinheiro? Vão se tornar mais produtivas? Se o seu produto ou serviço não for útil o bastante, os consumidores não vão se dispor a pagar por ele. O foco deve ser sempre o público, e não a última novidade hi-tech. Estar atento às inovações tecnológicas é importante, mas não é o que deve determinar os caminhos do seu negócio. O importante é ter uma boa ideia. E isso qualquer um pode fazer.

Você já declarou que empreendedores deveriam aprender a falhar mais e planejar menos. Por quê?
Antes do YouTube, eu abri três empresas diferentes, e todas elas fracassaram. Mas, a cada fracasso, eu ia aprendendo novas lições, e assim fui me tornando um empreendedor mais preparado. Para ser empreendedor, é preciso ter um apetite pelo risco, ter coragem de tentar várias coisas diferentes, até achar o caminho certo.

JAWED KARIM
QUEM É: Formado em ciência da computação por Stanford, participou das fases iniciais do PayPal e foi um dos fundadores do YouTube
O QUE FAZ: Depois que o YouTube foi vendido para a Google, em 2006, ficou milionário e montou a YouUniversity, empresa de venture capital que investe em negócios virtuais
www.youniversityventures.com

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