O papel de um centro de empreendedorismo

Como funcionam e em que se concentram as instituições que visam a estimular o empreendedorismo dentro de universidades

Por Marcos Hashimoto*
Divulgação

Como muitos sabem, além de dar aulas, também coordeno o Centro de Empreendedorismo do Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa, em São Paulo, desde 2006. Nessa posição, tenho procurado ampliar minha rede de contatos com outros coordenadores de centros de empreendedorismo, sobretudo aqueles estabelecidos em instituições de ensino superior, para refinar e adequar uma missão pertinente e relevante do nosso centro. Tenho o orgulho de afirmar que conheço quase todos os centros no Brasil e posso, com certa segurança, traçar um perfil dessas entidades.

Resolvi escrever sobre este assunto agora porque recentemente participei do encontro anual de centros de empreendedorismo, o GCEC (Global Consortium of Entrepreneurship Centers) que aconteceu entre os dias 21 e 23 de outubro na Universidade da Pennsylvania nos Estados Unidos (http://www.nationalconsortium.org/prot/conference.cfm). O encontro me propiciou uma visão única de comparação das práticas de nossos centros com os de outros países.
Foram 18 países representados por mais de 200 faculdades, a maioria escolas de negócios e administração. Além de cinco sessões plenárias, 25 sessões paralelas, divididas em cinco temas, contaram com apresentações das escolas sobre suas melhores práticas:

- Tema 1: Desenvolvimento dos centros
- Tema 2: Iniciativas conduzidas por alunos
- Tema 3: Empreendedorismo e tecnologia
- Tema 4: Educação empreendedora
- Tema 5: Impacto dos programas de empreendedorismo

Fui convidado a apresentar as nossas atividades no Insper em quatro dessas sessões, ressaltando o grande interesse dos participantes em conhecer iniciativas de outros países, sobretudo representantes de mercados emergentes como o Brasil. A seguir, relato alguns de outros pontos importantes discutidos no evento.

- Embora o público-alvo desses centros seja formado pelos alunos, principalmente da graduação, existe um senso comum de que os centros devem fortalecer seu compromisso para o desenvolvimento da comunidade local por meio da iniciativa empreendedora. A Kent State University, por exemplo, apresentou o Entrepreneurship Education Consortium, que reúne nove universidades da região do nordeste de Ohio, como uma forma de juntar forças para retomar o ciclo econômico pós-crise. Muitos destes desafios dizem respeito a procurar manter os jovens na região por meio de perspectivas empreendedoras, uma vez que a maioria deles se sente atraída para trabalhar em grandes metrópoles, na busca de uma carreira executiva.

- Assim como no Brasil, muitas escolas demonstraram um crescente interesse em estreitar as relações entre escolas de negócio e outras áreas como ciências ou tecnologia, pois é por meio delas que surgem novos negócios baseados em inovações tecnológicas, aumentando assim o potencial de gerar impacto positivo na economia, na forma de rápido crescimento e atendimento de necessidades emergentes. Por esse motivo, o tema “incubadoras”, tão comum nos centros brasileiros, não foi assunto de nenhuma pauta neste encontro, simplesmente porque a maioria dos centros pertencia a escolas de negócios, e não de tecnologia.

- Ao contrário do que muitos imaginam, apenas as grandes universidades contam com amplos recursos financeiros provenientes de fundos de filantropia. A maioria dos centros não possui recursos suficientes para conduzir suas iniciativas e contam apenas com patrocínios pontuais, geralmente eventos como congressos ou seminários ou cadeiras patrocinadas (Endowment Chair of Entrepreneurship).

- As atividades mais comuns conduzidas pelos centros nos Estados Unidos são cursos de empreendedorismo, com currículos primordialmente acadêmicos, como empreendedorismo social (tema mais comum dentre as ofertas de cursos e o mais popular entre os alunos atualmente), empreendedorismo feminino, empreendedorismo internacional, empreendedorismo de minorias, empreendedorismo juvenil, empreendedorismo por aquisições etc. Os centros já estabelecidos já não lançam mais novos cursos, preferindo explorar outras formas de prover a formação empreendedora.

- Dentre estas iniciativas fora de sala de aula, a que se destaca é a competição de planos de negócios, presente em pelo menos 80% dos centros de empreendedorismo americanos. Algumas delas realizam variações, como competições de pitching (discurso de venda da ideia), competições de conceitos de negócios, competições exclusivas para equipes multidisciplinares e competições temáticas, em áreas como social ou tecnológica. Em todos os casos, apesar do forte apelo de investidores e empresas interessadas em aproveitar as ideias que saem destas competições, o intuito principal delas é o aprendizado do aluno por meio da experiência prática. A Rice University constatou que os alunos que participam dessas competições valorizam o aprendizado, a mentoria e os contatos realizados, confirmando o alto valor que as competições criam como atividade complementar oferecida pela escola.

- Outras ideias que os centros colocam em prática para desenvolver competências empreendedoras incluem programas de estágio em empresas de médio porte e o peer mentoring, no qual alunos passam um ou mais dias ao lado de empreendedores bem-sucedidos, de preferência um ex-aluno da escola, vivenciando o dia a dia típico de um empreendedor. Os chamados Boot Camps estão ficando cada vez mais comuns também. Trata-se de um programa de imersão que pode durar de um dia a uma semana, no qual os alunos ficam em um lugar fora do campus e, além de aulas de projetos em grupo, recebem também palestrantes empreendedores.

- Como técnicas de ensino, várias ideias inovadoras foram apresentadas, como aulas dadas em duplas (sempre um professor e um empreendedor juntos); uso de técnicas teatrais para desinibir os alunos, em que os estudantes aprendem a criar o roteiro, desempenhar os papeis e preparar toda a montagem; aulas com turmas heterogêneas, com alunos de cursos diferentes; e técnicas de vendas e negociação, normalmente negligenciadas em programas acadêmicos.

Apesar de estarmos em menor número, nossos centros deixam pouco a dever com relação aos centros de empreendedorismo americanos. Os propósitos são os mesmos, e as ofertas, muito similares. As principais diferenças estão na forma de condução destas iniciativas, pois, enquanto nos Estados Unidos os esforços dos centros estão mais voltados para instrumentalizar os futuros empreendedores com técnicas, contatos e experiências, aqui no Brasil ainda estamos preocupados com o despertar de uma visão em que o empreendedorismo é o principal caminho rumo ao desenvolvimento econômico de uma nação e a real oportunidade de uma bem-sucedida carreira profissional.

* Marcos Hashimoto é professor de empreendedorismo do Insper, consultor e palestrante (www.marcoshashimoto.com)

Nenhum comentário:

Postar um comentário